A Dona da Casa – uma foto-crônica em homenagem às mulheres

Dona de casa no Seringal Amapá, município de Rio Branco (Foto: Arison Jardim/Secom)
“Dona Mariazinha”, moradora de Manoel Urbano, na BR-364 (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Quem está atento sabe: a casa é a cara do dono. No todo e nos detalhes, ali se encontra estampado o espírito, o modo de ser, a história, as crenças, medos, ambições e sonhos de quem a habita.

Altiva em sua morada, em sua cozinha, aí está ela: “dona Mariazinha”, como é conhecida em sua comunidade. Respeitável senhora. De bem com a vida. Como é que eu sei? Do jeito que todo mundo pode saber: observando, refletindo e alinhavando com os retalhos da caixinha pessoal.

No registro desse instante, quanto equilíbrio se exprimiu na composição da imagem, sabiamente capturada pelo fotógrafo!

Além da serenidade na expressão da mulher, saltam aos olhos as panelas muitíssimo bem areadas, reluzentes, instrução transmitida de mãe para filha nos seringais acreanos, como herança da tradição nordestina, para espelhar os atributos da dona da casa. Qual o significado disso? Atestado de competência em seu fazer. Resultado: autoestima. Como se o brilho do metal comprovasse: “Eu funciono”.

O ordenamento geométrico dos utensílios é notável. E denota a capacidade de organização mental de sua possuidora. Panelas agrupadas segundo a categoria, penduradas em linha reta, simetricamente distantes, da maior para a menor. As tampas mais ao canto, visíveis, acessíveis. Por sua vez, lógica e meticulosamente arranjados, também os pratos, acomodados segundo a cor, talheres e copos emborcados – para não cair pó nem insetos. Por associação, a jarra ao lado. E ainda há os eletrodomésticos, limpos e protegidos, prontos para o uso.

Isso é que é uma cozinha planejada. Estabelecida a partir de simplicidade e inteligência. Como negar a funcionalidade que há nessa arrumação? Sem falar na estética harmoniosa, que resulta num conjunto agradável de se olhar.

E a toalha? Ainda que de plástico, que delicadeza, que bom gosto, ilustrada com cestinhas e fitas. Visivelmente asseada, gera uma impressão de confiabilidade.

Assim equipada, não é difícil supor que a dona da casa goste de cozinhar e de receber. Portanto, deve gostar de gente, o que não é tão comum hoje em dia. Dá até pra imaginar o cheiro de sua comida bem temperada, caseira e pontual.

A postura distinta e relaxada, a mão pousada suavemente sobre a mesa, munhequeira no pulso. Hum. A dor e todos os sintomas físicos sempre transmitem um recado da alma – talvez nossa amiga, tão ativa, esteja trabalhando demais.

Por sua vez, o vestido, confortável, é simples, de casa. Como na cena toda, não apresenta luxo algum. Mas que dignidade!

Muitas mulheres não se reconhecerão nela. Outras se lembrarão da mãe, da avó ou de alguém distante. Mas mesmo para as modernas, cultas, urbanas, sofisticadas ou distanciadas da realidade da floresta, dona Mariazinha, até no nome tão brasileira, tão representativa da rica cultura tradicional amazônica – que para muitos parecerá apenas simplória –, com o seu exemplo, tem muito o que ensinar. Como se dissesse:

– Tenha orgulho de ser quem você é, do jeito que você realmente é. Seja sempre dona do seu espaço, mas saiba acolher nele quem o respeita. Ofereça o melhor de si, para si mesma e para o mundo. Seja qual for a situação, tome conta da sua vida de cabeça erguida e coração aberto. E, se for possível e verdadeiro, com um sorriso nos lábios.

Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista, escritora e contadora de histórias