Indústria Dom Porquito muda a realidade do Alto Acre

Quem vai de Brasileia para Assis Brasil pela BR-317 encontra logo na saída da cidade uma estrutura que não consegue passar despercebida.

Com um investimento total de R$ 70 milhões, o frigorífico de suínos Dom Porquito se destaca não só por seu porte, mas hoje conquista marcas impressionantes mesmo com pouco tempo de funcionamento, já possuindo 290 funcionários diretos e abatendo 200 porcos por dia em média.

Até mesmo entrar nas instalações para conhecer o ambiente de trabalho do frigorífico não é tarefa fácil. A Dom Porquito possui Selo de Inspeção Federal (SIF), o que faz com que os protocolos de trabalho devam ser seguidos à risca, e uma representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento faça parte do dia a dia da indústria, junto com uma equipe completa. Assim, qualquer visita de terceiros deve ser guiada e previamente autorizada.

Hoje, a Dom Porquito trabalha exclusivamente com a venda de carcaças inteiras de porcos e uma gama gigantesca de cortes, que saem da indústria sob a marca Mister Pig.

Segundo Paulo Santoyo, diretor-presidente da empresa, este mês começou a produção e comercialização de embutidos, agora sob o nome Sabbor.

“Já estamos atendendo todo o Acre, Rondônia e Amazonas, com foco em Manaus e Roraima. Acreditamos que a partir de maio estaremos habilitados para exportação, com contratos já programados para Bolívia, Venezuela, Cuba, Equador e Hong Kong”, explica Paulo Santoyo.

A primeira vez…

Foto: Gleilson Miranda/Secom
“Antes eu queria fazer faculdade de Administração, mas desde que vim para cá comecei a pensar em veterinária” (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Andando pelos setores da indústria, não deixa de ser notável uma diferença expressiva entre homens e mulheres. Dos 290 funcionários, elas são 170. E medo de lidar com os suínos de até 120 quilos não há para ninguém, já que a fábrica é totalmente automatizada, sem necessidade de a pessoa precisar levantar o peso das carcaças em suas etapas de tratamento.

Aos 22 anos, Diana da Silva encontrou na Dom Porquito seu primeiro emprego, mesmo sem experiência alguma. Moradora de Brasileia, divide aluguel com uma amiga, e aos poucos começa a estruturar sua vida.

“Estavam precisando de gente aqui, e uma colega me indicou. Me ligarem e eu vim, passei na entrevista e fiz os exames”, conta a jovem, que trabalha na área de desossa.

Mesmo há apenas um mês no cargo, Diana começa a ver a vida com outros olhos e fazer planos. “Ao chegar aqui, não sabia de nada. Estou aprendendo muito, e eles me colocam em várias funções. Antes eu queria fazer faculdade de Administração, mas desde que vim para cá comecei a pensar em veterinária”, revela.

Caminhos não imaginados

Renan fez curso pelo Pronatec e conseguiu uma vaga na área de segurança no trabalho (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
Renan fez curso pelo Pronatec e conseguiu uma vaga na área de segurança no trabalho (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Se a vida começa a mudar para Diana com o primeiro emprego, para o jovem Renan de Souza, de 20 anos, a mudança foi um pouco mais brusca.

Vivendo em Rio Branco, Renan pode realizar um curso de segurança no trabalho pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). “Cuido da saúde e da segurança do pessoal, verifico se todos estão usando os equipamentos certos, acompanho até o hospital”, explica.

Mesmo sendo o terceiro emprego de sua vida, Renan conta que nada foi fácil. “Fiz o curso, aí passou um ano e apareceu essa oportunidade. Eu fiquei sem chão, pensativo – se vinha para cá sozinho, sem amigos, sem família”.

Escolhendo encarar o desafio, Renan trabalha com a mudança todos os dias. “No começo era meio difícil morar sozinho e trabalhar numa empresa tão grande, mas a gente se adapta. No futuro agora quero me especializar na área e crescer junto com a empresa.”

Raissa Suzuki fala da mudança drástica que foi sair de São Paulo para trabalhar numa indústria no Acre (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
Raissa Suzuki fala da mudança drástica que foi sair de São Paulo para trabalhar numa indústria no Acre (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Se o impacto de uma mudança já pode ser grande entre Rio Branco e Brasileia, qual seu tamanho nos mais de três mil quilômetros entre a cidade sede da Dom Porquito e Presidente Prudente (SP)?

Raissa Suzuki, veterinária e gerente de controle da indústria, conta: “No começo foi bem complicado, cheguei às vezes a pensar em desistir, mas tudo é uma questão de adaptação. Eu encarei esta oportunidade como um presente”.

Raissa fala como é desafiador assumir um frigorifico desse porte, com todas as expectativas que existem, para habilitar para exportar e com uma capacidade de produção que é um desafio.

“Nunca imaginei que iria conhecer o Acre. Em outros estados o pessoal criou até a piada: ‘O Acre existe?’. Eu mandei uma mensagem para minha família: ‘O Acre existe, sim, e tem uma indústria enorme’”, brinca a veterinária.

Planos ambiciosos

Mesmo com pouco tempo de mercado, a Dom Porquito tem planos sólidos para consolidação. Para dezembro deste ano, a expectativa é de que sejam abatidos 500 animais por dia. Já para dezembro de 2018, o salto é muito maior, com previsão de abater 1.200 e já funcionando em um novo turno de trabalho.

Hoje a produção no campo da região do Alto Acre é capaz de atender a demanda de 500 animais por dia, mas a Dom Porquito precisa expandir esse número.

A empresa já planeja um investimento de R$ 9 milhões, para aumentar a produção de leitões e incorporar 150 produtores nos próximos três anos, com a ajuda do governo do Estado, que vai estimular o pequeno produtor a também entrar no negócio.

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