Na Gleba Afluente, governo age contra desmatamento e grilagem de terra

Com firmeza e diálogo, o governo do Estado está em campo com a Operação 7 de Setembro, contra o desmatamento e queimada. Desde a último segunda-feira, 5, quando foi dado início às atividades, mais de mil agentes de diversos órgãos estão identificando propriedades com danos ambientais, além disso orientando os agricultores a não realizarem nenhuma degradação sem licença, principalmente neste período.

Parte desta atividade conjunta, nesta semana uma equipe foi destacada para agir ao longo da BR-364, entre os municípios de Manoel Urbano e Feijó, na área que compreende a Gleba Afluente. Com mais de 150 mil hectares, a gleba é destinada para a criação de uma Unidade de Conservação (UC) de uso sustentável e foi repassada da União para o Estado do Acre em 2015, durante a Conferência de Partes (COP) 21, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Além das autuações, foram realizadas informes para a comunidade que vive dentro e próximo à Gleba Afluente (Foto: Arison Jardim/Secom)

Inicialmente com um cadastro de mais de 30 famílias no local, passou a se perceber um grande avanço migratório com invasão para dentro da área, além de venda ilegal de terras. Para coibir essa prática, que resulta em desmatamento, a equipe esteve durante toda a semana agindo na região.

Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) da Polícia Militar e Instituto de Terras do Acre (Iteracre) estiveram na ação. Foram R$ 137 mil reais em multas aplicadas, nove autos de infração e embargo pelo Imac. O BPA realizou dois flagrantes de caça ilegal, com três armas apreendidas e cinco pessoas encaminhadas para a delegacia.

A pressão no entorno da gleba, em Manoel Urbano tem sido muito grande. Há pouco mais de um mês, duas áreas foram multadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em mais de R$ 1 milhão cada uma. Os responsáveis pelas ações ilegais nas áreas de 450 hectares e outra com 400 hectares foram penalizados.

Carlos Cunha, agente ambiental do Imac, falou sobre o trabalho que o Instituto realiza para que os produtores realizem suas atividades de forma correta. “O Imac trabalha com a questão das licenças ambientais dentro do tempo hábil para o agricultor fazer seu plantio. Além das vistorias e autuações quando necessárias, realizamos também um diálogo com os proprietários para procurarem os órgãos ambientais antes de realizar qualquer desmate ou intervenção na floresta”, afirma.

Floresta é vida

Cerca de 30 famílias vivem na Gleba Afluente. Perdido é um desses moradores (Foto: Arison Jardim/Secom)

Andar por entre os varadouros (caminhos) e pontes de tronco de árvore dentro da mata, na bacia do Rio Moaco, é oportunidade de conhecer histórias que marcam a relação do homem com a natureza.

Um desses personagens que fazem morada na Gleba Afluente é Francisco Sales Pereira, conhecido como “Perdido”. O inusitado apelido é resultado de uma aventura que viveu assim que chegou no novo habitat, vindo de Sena Madureira com a família.

Há cinco anos, Francisco mudou-se para onde hoje chama-se Colônia São Pedro. “Com seis dias que cheguei, eu me perdi. Fui voltar para casa 46 dias depois”, relata com uma grande risada, relembrando que foi encontrado por um pescador já em Boca do Acre, no Amazonas. Mesmo com o sofrimento que passou, assim que voltou e encontrou sua esposa, disse que não queria deixar a nova casa dentro da floresta.

“Perdido” e família vivem três quilômetros dentro da Gleba, onde será criada a Unidade de Conservação. Com cinco anos vivendo na área, é um dos moradores mais antigos, já que a maioria das famílias que viviam da exploração do látex deixaram o local logo após a desvalorização do produto no século XX.

Com a abertura da BR-364 até Cruzeiro do Sul, a partir de 2011 houve uma mudança no cenário ocupacional dessa região que viveu sempre isolada. Muitas das famílias que viviam à beira da estrada, mudaram-se para a cidade, dando lugar para outras. Hoje, cerca de 30 vivem ou dentro da floresta, ou na margem da estrada, ainda território da Gleba, que vai por 70 quilômetros até a Linha Cunha Gomes, divisa com o Amazonas.

A área está localizada entre os municípios de Feijó e Manoel Urbano, ao longo da BR-364 (Foto: Arison Jardim/Secom)

A maioria desses moradores vivem da agricultura tradicional e por isso foram orientados durante as ações do governo nesta semana sobre como proceder, buscando sempre a licença com o Imac. O trabalho de conscientização foi realizado de casa em casa pela Sema e BPA.

Está sendo realizada uma ação informativa aos moradores antigos e uma repreensão aos invasores. “Para aqueles já identificados em nossos estudos preliminares, informamos que qualquer desmate deverá ser feito com licença. Ao mesmo tempo estamos investigando e reprimindo, com o BPA, aqueles que estão entrando, demarcando e loteando para pessoas que desconhecem que essa área é pública”, explica Jurandir Pinheiro, geógrafo da Sema.

O homem que viveu 26 dias se alimentando do palmito de açaizeiro, enfrentou a escuridão da noite ao lado de bichos que até hoje não sabe identificar e mesmo assim não quer se ver livre da floresta, agradece o trabalho de proteção de sua casa. “Nossa floresta é nossa vida. Se ficarmos sem a floresta, ficamos sem água, ela é boa demais. Tocou em mim, lá na mata quando estava perdido, que era pecado cortar até uma vara sem ter precisão daquela vara”, afirma Perdido.

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