Nova geração de professores no Acre promove uma revolução na forma de ensinar

Aulas de robótica chamam a atenção dos alunos (Foto: Diego Gurgel/Secom)
Aulas de robótica chamam a atenção dos alunos (Foto: Diego Gurgel/Secom)

Eles são jovens, compromissados com o que fazem e dispostos a ousar, seja em sala de aula, seja incentivando a comunidade escolar a abrir espaços alternativos para o conhecimento. Não fazem da carga horária o seu objetivo principal, mas criam horários alternativos nos contraturnos para administrar conteúdos para além da escola tradicional.

No Acre, uma nova geração de professores desponta na rede pública de ensino com métodos inovadores, e estão obtendo resultados altamente satisfatórios. Esses educadores são lembrados hoje, quando se comemora o Dia do Professor, como exemplos de que é possível conciliar a escola tradicional com práticas que estimulem crianças e adolescentes a aprender fazendo. Bem-vindos à rotina dos super professores.

(Foto: Mágila Campos/SEE)
Professor busca alternativas para ensinar aos alunos (Foto: Mágila Campos/SEE)

O primeiro deles leciona física na escola Professora Heloísa Mourão Marques, no bairro Aeroporto velho. Se Copérnico ou Galileu estivessem vivos e pudessem assistir a uma aula de Daniel Gomes, com certeza, ficariam boquiabertos com a facilidade com que seus alunos assimilam os conteúdos de astronomia.

O projeto Astronomia Aberta, idealizado como atividade paralela aos estudos teóricos da disciplina, trabalha questões como a existência de vida fora da terra, o funcionamento de um buraco negro, de que é formada uma estrela, um asteroide e como funcionam as galáxias, de um modo praticamente lúdico.

E acredite: as duas horas-aulas que ele tem na escola não foi um empecilho para ele.

Professor Daniel Gomes: dedicação quase exclusiva à escola sem querer nada a mais, exceto a satisfação dos estudantes (Foto: Mardilson Gomes/SEE)
Professor Daniel: dedicação quase exclusiva à escola sem querer nada a mais, exceto a satisfação dos estudantes (Foto: Mardilson Gomes/SEE)

“Como eu tenho 13 turmas e praticamente nenhum tempo extra pela manhã, resolvi me dedicar aos alunos no contraturno. Reuni algumas lunetas cedidas pela Ufac, preparei vários vídeos sobre o Universo e começamos a caminhar, eu e os estudantes que se interessaram pela matéria, desvendando novas oportunidades de conhecimento pela prática”, conta o professor, que é formado em Física pela Universidade Federal do Acre e aprovado no concurso público da Secretaria de Educação e Esporte em 2014.

Os alunos do 1º ao 3º ano, se empenham em fazer o melhor, buscando explorar cada vez mais as novas possibilidades de aprendizagem. Entre eles, está Gabriele Bezerra, 17 anos, do 2º ano. “A forma como ele explica, por exemplo, o movimento de rotação e translação da terra ou o que contém uma estrela é muito divertido, quando ele usa documentários”, diz a jovem.

A menos de um quilômetro da escola do professor Daniel e da jovem Gabriele, descendo a Ladeira do Bola Preta, está a escola José Ribamar Batista, celeiro de jovens cientistas, sob a tutela do professor Fernando César Rivarola Ramirez, também da cadeira de Física.

Eles se especializam em robótica experimental para participarem do First Lego League, o FLL, maior festival de robótica do mundo, cujas eliminatórias serão realizadas em São Paulo, nos dias 9 e 12 de novembro próximos.

Para trabalhar com uma turma de 15 estudantes, o professor sensibilizou a direção da escola a reativar o laboratório, que estava servindo de almoxarifado. Ali, ele trabalha com a garotada na construção de experimentos. Embora tenha obtido o apoio da Escola Sesi, Ramirez se orgulha de seus alunos pela capacidade da reinvenção.

“Pedimos sempre que tragam alguma coisa que não presta mais em casa, seja uma fonte de celular, um disco rígido quebrado de computador, um capacitor velho ou circuitos integrados e placas de imãs. São quinquilharias que, em vez de serem jogadas no lixo, são reutilizadas por uma boa causa, a ciência da robótica”, ressalta o docente.

Professor Luis Carlos da Silva: interatividade da produção textual com outras disciplinas de humanas rende sucesso (Foto: Mardilson Gomes/SEE)
Professor Luis Carlos da Silva: interatividade da produção textual com outras disciplinas de humanas rende sucesso (Foto: Mardilson Gomes/SEE)

Conexão entre disciplinas melhora o ensino-aprendizagem

Na escola Heloísa Mourão Marques, o professor Antônio Fernandes, de matemática, dialoga com o colega Daniel Gomes, que abriu esta reportagem, quando vai abordar cálculos e aplicações de fórmulas que abordem resistores e correntes elétricas em suas aulas do ensino médio.

“Os alunos dizem: ‘Eu já vi isso aí na aula do professor Daniel’. E a ideia é essa: conectar as disciplinas para que o aprendizado seja pleno”, explica Fernandes.

Língua portuguesa, geografia e sociologia juntas é possível

Liz (E) também gosta da forma divertida como o professor Luís Carlos da Silva, de português,ministra os conteúdos (Foto: Mardilson Gomes/SEE)
Liz (E) também gosta da forma divertida como o professor Luís Carlos da Silva, de português,ministra os conteúdos (Foto: Mardilson Gomes/SEE)

Até a última semana, o professor Luís Carlos da Silva trabalhava com conectivos da língua portuguesa, com os estudantes do 2º ano ‘T’ da escola Heloísa Mourão Marques. Estes jovens estão experimentando a interdisciplinaridade. Esta palavra quase interminável significa na prática que estão aprendendo português, sociologia e geografia de uma só vez, por meio da produção textual.

“Basicamente, o que eles veem nas outas disciplinas de humanas, transferem para as redações. Assim, melhoramos as habilidades de escrita, o vocabulário desses alunos e os capacitamos para o Enem deste ano”, afirma Luís Carlos da Silva.

Desse modo, artigos sobre espaços urbanos, textos jornalísticos e análises de comportamento sociais são um bom cardápio para as atividades de em sala de aula. E empolgam a menina Liz da Silva Santos, de 17 anos. “Estudar nunca foi divertido. Mas desse jeito aqui, a escola vira um doce pra gente”, brinca.

Valorização dos profissionais é meta prioritária do governo

Estudantes do 2º ano da escola Mozart Donizeti: êxito graças a um sistema que integra a família à escola e valoriza o ambiente da sala de aula (Foto: Resley Saab)
Estudantes do 2º ano da escola Mozart Donizeti: êxito graças a um sistema que integra a família à escola e valoriza o ambiente da sala de aula (Foto: Resley Saab)

Mesmo com a séria crise que o país atravessa, o governo do Estado do Acre é um dos que mais investe na Educação no país. Um levantamento detalhado dos recursos mostra que o impacto geral, na folha de pagamento dos professores no estado foi de R$ 126 milhões no ano passado.

O governo Tião Viana tem trabalhado na valorização dos professores a ponto de possibilitar que esses profissionais recebam salário 40% maior que os de São Paulo, por exemplo.

Enquanto um docente com formação superior e piso inicial de São Paulo ganha R$ 8,05 por hora, o acreano recebe R$ 13,16. No ranking dos salários do país, o Acre lidera a lista dos Estados que pagam melhor os seus professores em início de carreira, apesar de ter um dos menores Orçamentos do país.

Um levantamento do Departamento de Pessoas, da Secretaria de Estado de Educação e Esporte, mostra que medidas de controle das contas e de reorganização dos docentes possibilitaram uma redução de recursos na folha de pagamento, embora o quadro de professores tenha aumentado.

Em setembro de 2015, por exemplo, a folha de pagamento somente dos efetivos era de pouco mais de R$ 27.105.621,85 para 8.115 profissionais. Este ano, o último pagamento, ocorrido em setembro último, o valor total da folha foi de R$ 25.129.311,71.

Uma outra análise mostra que em 2015, o estado tinha 15.133 professores, entre efetivos e provisórios, com uma folha de pagamento de R$ 41.315.654,02. Em 2016, com os reajustes salariais, a folha ficou com a média de: R$ 42.451.686,90.

A reorganização tirou docentes de funções burocráticas e os colocou na sala de aula, permitindo melhor uso dos recursos.

Acre é o estado com o melhor desempenho no Ideb da região Norte

Escola Georgete Eluan Kalume obteve nota 7 no Índice Nacional da Educação Básica
Escola Georgete Eluan Kalume obteve nota 7 no Índice Nacional da Educação Básica (Foto: Diego Gurgel/Secom)

Políticas públicas integradas, investimentos em infraestrutura física de escolas públicas e qualificação de professores, entre outras ações executadas pelo governo do Estado, permitiram que hoje o Acre celebrasse avanços nos indicadores de educação, como confirmam os números divulgados nesta semana pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que apontou o estado como o primeiro lugar da Região Norte no ensino fundamental I e II.

“O Acre é o primeiro estado da Região Norte nas séries iniciais do ensino fundamental e o primeiro em qualidade nas séries finais do ensino fundamental. Significa dizer que estamos avançando em relação à taxa de crescimento do Brasil e em relação à nossa própria região”, comentou Marco Brandão, secretário de Estado de Educação e Esporte.

De acordo com o Ideb, em 2013 o Estado registrava índice de 5,1 pontos nas séries do 1° ao 5° ano. Em 2015, o crescimento foi de 0,4, chegando a 5,5 pontos. Nos dados de municípios, o ensino público da rede de Rio Branco apresentou crescimento de 0,3 ponto nas séries iniciais, saindo de 5,5 para 5,8 pontos.

No ensino fundamental do 6° ao 9° ano a educação estadual alcançou 4.5 pontos, na avaliação de 2015. No ensino médio, no mesmo ano, o Acre registra 3.6 pontos.

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