Otimismo e bom humor: receita para atravessar a crise econômica

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“A gente tem que dar um futuro para os filhos”, diz Sebastião, que, junto da esposa e da filha mais velha, garante a renda com jardinagem (Foto: Arison Jardim/Secom)

Filho de seringueiro que viu o declínio, no passado, da profissão do pai, frentista em um posto de gasolina aos 14 anos, depois caminhoneiro e agora empreendedor, Sebastião Alencar supera as dificuldades.

Desde 2014, ele preside a Associação Florescer. Com a família e todas as outras 11 associadas, tem ganhado espaço no mercado de jardinagem, vendendo flores em cima de um caminhão, na feira do Mercado Velho, em Rio Branco, ou no shopping da cidade.

A família de Alencar serve de referência positiva em um mundo que atravessa, desde 2012, um período de crise econômica, com baixas taxas de crescimento e elevada instabilidade financeira.

O Acre, como todas as localidades brasileiras, sente a vulnerabilidade da economia. Governo e povo buscam alternativas de seguir firmes em seus negócios, com criatividade e bons projetos.

A partir de 2011, início da primeira gestão do governo Tião Viana, surgiu um novo programa de desenvolvimento econômico direto e com retorno quase imediato.

Os pequenos negócios do estado ganharam um novo olhar e um grande aporte de recursos. Já foram investidos mais de R$ 27 milhões no estímulo e fortalecimento dessa modalidade econômica.

As feiras de Economia Solidária estão em 17 municípios, beneficiando 3.300 famílias. Em Rio Branco, chegam a movimentar até R$ 40 mil por mês

O apoio, junto com a confiança e criação de novas possibilidades, tem gerado uma economia solidária forte e que ultrapassa a barreira da crise.

O cultivo de flores e plantas ornamentais atende uma paixão histórica que movimentou um mercado de R$ 5,6 bilhões em 2014, só no Brasil, terceiro produtor mundial.

“A paixão por flores existe no mundo inteiro. Temos clientes que vêm da Europa e primeiro pesquisam se podem levar a planta que escolheram. Às vezes eles compram a planta mesmo sabendo que não podem embarcar, só para ficarem com ela o tempo em que estiverem no país”, afirma Alencar, que agora pesquisa mercados vizinhos, como Bolívia e Peru.

O negócio em jardinagem da família começou em 2004. Na época, o patriarca fazia fretes até Cruzeiro do Sul. Com a abertura definitiva da rodovia BR-364, em 2011, os empresários da região passaram a adquirir os próprios caminhões, e o serviço de Alencar não era mais compensatório. Nesse período, passou a acompanhar as reuniões da associação e a ajudar a esposa, Ivanete, e a filha, ambas com curso preparatório, no cultivo e transporte, até ser convidado pelas associadas, todas mulheres, para presidir a Florescer.

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Ivanete não tira o sorriso do rosto durante as vendas. No shopping, consegue uma renda de até dois mil reais no fim de semana (Foto: Arison Jardim/Secom)

Seguindo em frente com união

Desde então, pai, mãe e filha têm trilhado um caminho de sucesso, com consciência e perseverança. Durante conversa na sua casa, com o telefone sempre tocando, ora a filha, ora algum cliente de seu outro negócio de venda de areia e barro, ou até mesmo recebendo notícias de suas poucas cabeças de gado na fazenda do irmão, Alencar relata a receita de apoio e vontade própria para avanço nas vendas.

“Só em ver a força de vontade do Estado em nos ajudar, às vezes com pouco orçamento, para nós já é muito. Ano passado, recebemos o caminhão pela Secretaria de Pequenos Negócios [SEPN]. Participamos das feiras da Economia Solidária desde 2004, lá começamos todo o processo”, diz.

Com o Programa Estadual de Feiras Regionais, gerido pela SEPN, já foram atendidas 3.300 famílias em 17 municípios. Em Rio Branco, as feiras geram até R$ 40 mil por mês.

Em 2015, 600 novos postos de trabalho foram gerados no Acre, por meio dos pequenos negócios. Nos últimos cinco anos foram entregues mais 16 mil pequenos negócios nos 22 municípios acreanos, beneficiando, direta e indiretamente, cerca de 70 mil pessoas.

Na área da educação, a filha mais velha é contemplada com um financiamento de 100% do seu curso de Engenharia Civil, pelo programa federal Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Cerca de 70% da economia brasileira é movimentada por pequenos negócios. Em 2015, 600 novos postos de trabalho foram gerados no Acre nessa modalidade

Mesmo com o cenário econômico desfavorável, a Florescer está expandido seus negócios. Continua expondo nas feiras no Mercado Velho, possui uma loja no Mercado dos Colonos, e no último fim de semana de cada mês tem um espaço para vender dentro do shopping da cidade.

“Nas primeiras feiras, a gente faturava apenas R$ 800. Hoje, só nas feiras, cada associado pode conseguir R$ 1.500. No shopping, nós e outra companheira conseguimos até R$ 2.000 no fim de semana. Lá não tem crise”, afirma.

“A gente só tem a vitória se acreditar”, diz Sebastião, ao relatar que para conseguir o espaço no shopping precisou insistir por três vezes até a gerência aceitar a parceria. “Hoje, tenho vontade de conversar com aqueles que desistiram de empreender, para nos unirmos e o movimento ficar mais bonito”, projeta.

A mensagem de Alencar, que fala com a calma típica dos que nascem no seringal, é a mesmo que transmite para a filha quando está na loja: “Para sair da crise é com otimismo e bom humor. Na hora de fazer a venda, colocar sua experiência e alegria para o cliente, que certamente vai vender”.

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