Parque Palheiral: o que muda pra quem vive lá?

Além da reportagem, um vídeo irreverente foi gravado com a comunidade do entorno do parque (Foto: Alexandre Noronha/Secom)

De manhã fui acompanhar o Kennedy ao Parque Palheiral. Lá, ele foi conversar com a secretária de Estado de Habitação, Janaína Guedes, com Gicélia Viana, engenheira responsável pela obra, e, principalmente, com os moradores. Acompanhei de perto e o vídeo ficou excelente, além de muito divertido.

Mas aproveitei para conversar com outras pessoas que moram e trabalham no entorno e que puderam acompanhar a obra e ver seu espaço ser transformado ao longo do tempo.

É o caso de Francisco Fernandes, conhecido no bairro como Adílio. Ele tem uma pequena mercearia na Rua A. Me contou da época em que a rua alagava, que quando os carros passavam jogavam a água dentro do estabelecimento e que tinha dias que “era o jeito fechar”.

As mudanças na região afetaram diretamente seu comércio desde a restauração de sua rua e das do entorno, algumas que anteriormente eram varadouros e becos. Além de ganhar mais clientela que tinha dificuldade no acesso, agora se cansa menos, pois antes tinha de limpar o comércio inúmeras vezes por dia devido à lama levada pelos calçados dos clientes.

E sobre o parque, completa: “Já melhorou muito. Rapaz, ficou legal! O pessoal fica passeando aí – apontando pro Parque -, tirando que agora em cinco minutinhos de pés tu chega no mercado Pague Pouco, antes tinha que arrodear aquilo tudo, ó! Tirando que ficou tipo um dia à noite. Tudo iluminado. Rapaz, é porque acho que tu ainda não veio aqui de noite, mas é tipo um dia mesmo, daqui você vê lá perto da [malharia] Japonesa, acolá. Se você vê… Fica bonito!”.

Trabalhando na obra, José Cruz viu a evolução do serviço nos últimos dois anos (Foto: Alexandre Noronha/Secom)

As obras no parque estão a pico, são cerca de 50 trabalhadores que começam cedo do dia. Alguns pintando a quadra, outros em tratores, um tanto batendo a grama. José Cruz trabalha na obra há dois anos e tá empolgado com a reta final porque sabe como era antes e hoje, mesmo antes da inauguração, já vê as pessoas usufruindo do seu trabalho pesado.

“Antes ali, a gente entrava com a máquina e furava o pneu todo dia, porque era entulho demais. Hoje em dia toda hora tem gente caminhando aí, de farda é de monte e têm os senhores, as senhoras, correndo e caminhando aí porque a gente que fez esse acesso. De primeiro ninguém ia caminhar na mata, né? Eles também estão animados com essas luminárias aí porque, dizem, é mesmo que o dia e não tem perigo”, comenta, satisfeito o trabalhador.

Falando em gente caminhando, dá mesmo pra se exercitar bastante no Parque Palheiral, já que a obra tem 2,5 quilômetros de extensão. Tem quadra poliesportiva, quadra de areia e outro campinho de areia e ainda tem academia.

Raimundo tem 77 anos, mas tem uma força incrível. O empreendimento passa bem em frente a sua casa, em que mora há mais de três décadas. Fala que antes era tudo matagal, mas que construiu a casa ali porque não tinha dinheiro pra comprar uma casa em um lugar melhor. Agora se diz feliz porque tem uma vista bonita da sua casa, conta que sua mulher deu a ideia de vender a casa agora que está muito mais valorizada – porque além da vista, receberam a regularização fundiária pela Sehab – mas ele falou que não vende.

Aos 77 anos, Raimundo cultiva inúmeras plantas no entorno do parque, próximo a sua casa (Foto: Alexandre Noronha/Secom)

Passou a metade da vida tendo um matagal e uma bueira na frente ao lar e só agora que pode ter uma vista bonita, quer poder aproveitar da benfeitoria. E ainda tá mais seguro, conta, “porque marginal é tipo coruja, gosta do escuro pra fazer o mal. Agora que tá claro, eles nem aparecem mais aqui”.

O idoso, sozinho, já plantou mais de cem fruteiras no parque. “Isso é tangerina, acerola, açaí, ‘jambre’, é laranja, é cajarana e tem até manga de supermercado, daquela bem vermelhinha… Tudo isso tá plantando aí. Eu que plantei.”

E conta porque acha essa atitude importante: “Você vem lá ‘dacolá’ de longe e chega aqui e diz: ‘Olha uma manga, vou chupar’. Ou uma goiaba, uma acerola, um cacho maduro de açaí ou bacaba, vamos tirar pra fazer’. É pra dar comida a quem tem fome”. Afirma que, por conta da idade, talvez não deva nem usufruir as frutas. “Mas lá de cima eu vou ficar vendo, feliz, as pessoas comendo das frutas que eu plantei, e Deus vai me recompensar por isso.”

E tem ainda pessoas como o Léo Leão, que, ao contrário de Raimundo, mora à beira do parque há apenas um mês. Antes, nem poderia mesmo ter se mudado pra lá, já que onde fica seu portão antes era mato e lama, e ele como cadeirante não poderia se locomover. Agora pode, já que sai bem de frente à ciclovia e é dessa forma que se movimenta em seu triciclo adaptado. Quem aproveita também é sua esposa, Vanessa, que aos fins de tarde usa o parque para correr.

Léo e a família moram há um mês no local (Foto: Alexandre Noronha/Secom)

E é assim, um empreendimento que custou aos sofres públicos 25 milhões, que tem dois quilômetros e meio de extensão, conta com duas quadras, um campinho, com uma iluminação pública linda, ligou lugares distantes, trouxe saneamento básico à região e presenteou mais de 1.600 famílias diretamente.

Mas quando falamos de números, às vezes não se sabe o impacto que pode causar na vida de cada pessoa. Passei poucas horas e conversei com alguns populares, mas já pude ter uma pequena dimensão do que uma obra como essa pode mudar diversos aspectos de suas vidas.

Agora aproveita e assiste ao vídeo do Kennedy! Dá pra conhecer melhor o que essa sendo feito, além de dar umas boas risadas.

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