A importância da radiodifusão para a Amazônia e o protagonismo histórico de informar aos isolados

O imenso território amazônico tem aproximadamente 5,2 milhões de quilômetros quadrados com regiões isoladas, lugares onde as distâncias ainda se medem em dias de barco ou estradas [quando trafegáveis] como a última fronteira por água entre Brasil e Peru, o rio Foz do Breu. Falamos de um território inicialmente indígena e, sucessivamente, território peruano, acreano, brasileiro e parte da Reserva Extrativista do Alto Juruá.

Em milhares de regiões como essa, a energia elétrica não chega e as novas tecnologias soam apenas como uma esperança. É o velho rádio de pilha que rompe o silêncio e o isolamento de populações que lá habitam e faz a alegria de cidadãos que muitas vezes desconhecem fronteiras, atravessam as rotas entre os países como parte de suas atividades nômades.

Em Tarauacá, cidade localizada no noroeste do estado do Acre, a Rádio Difusora Acreana (RDA) é usada pelo Poder Judiciário para intimar seringueiros, ribeirinhos, produtores localizados em regiões onde o homem não consegue chegar. O tradicional programa de mensagens da emissora se constituiu como um valioso instrumento para levar o estado de forma mais plural, no extremo, muitas vezes sendo o único meio massivo de comunicação.

Este cenário revela o trabalho histórico de radialistas que se moldaram às mais diversas situações na tentativa de comunicar ao isolado, fazendo com que as “ondas hertizianas” descobertas pelo físico Henrich Rudolf Hertz em 1863, representem um fenômeno.

Milhares de ouvintes desconhecidos que recebem os sinais da RDA são relatados por seus parentes nas cidades. Eles buscam as emissoras para levar informação e serviços às regiões remotas. Para esses povos, o rádio é tão importante como foi para o universo, o Código Morse, criado em 1843 pelo americano Samuel Finley Bruce Morse.

Manter tradição e modernidade é um desafio encarado com muita competência pela secretária de comunicação, Silvânia Pinheiro. Mesmo pegando um sistema público totalmente sucateado, em menos de um ano foi possível investir na compra de equipamentos modernos de transmissão à RDA, devolvendo à emissora o protagonismo de colocar a comunicação a serviço das pessoas, ação de quem entendeu a radiodifusão como estratégia de ação política.

Quebrando paradigmas, o governador do Acre, Gladson Cameli, praticamente toda segunda-feira vai para a Rádio Aldeia FM em Rio Branco, onde, através de um pool de emissoras AMs e FMs, ao vivo, promove um relacionamento inédito com milhares de ouvintes respondendo questionamentos feitos por ouvintes e internautas. O programa “Fale com o governador”, com a ajuda das redes sociais recebe durante a transmissão várias denúncias, críticas e elogios que norteiam as ações de estado. No mesmo canal a chamada grade cidadã disponibilizou espaços para um jornal do Poder Judiciário e um Informativo do Ministério Público Estadual.

Os desafios são enormes. Hoje, segundo o RadiosNet, são mais de meio milhão de acessos pela internet às rádios pertencentes ao sistema público de comunicação. Elas lideram o que especialistas em radiodifusão chamam de unisensorialidade, a capacidade que o rádio oferece às pessoas de ouvi-lo fazendo outras coisas ao mesmo tempo.

O advento da internet – que parecia ameaça para o rádio no mundo – acabou se tornando uma grande oportunidade. Assim descrevem Celso Sebastião dos Santos, Maurício Wiechoreki e Ezequiel Plinio Albarello na relação entre internet e radiodifusão, estudo sobre a evolução do rádio através da rede mundial de computadores [2014].

A comunicação do Acre vive um novo momento, com o DNA de liberdade de expressão presente no cotidiano de seus profissionais. Com altruísmo elevado “o rádio chega a quem não sabe ler, é o mestre de quem não pode ir à escola, é o divertimento gratuito do pobre, o animador de novas esperanças”. Assim nos ensina Roquette-Pinto.

Jairo Carioca
Jornalista e assessor de imprensa. Atualmente é coordenador da Rádio Aldeia FM em Rio Branco.