Fogão que cozinha e produz eletricidade chega às comunidades isoladas de Xapuri

O que pode ser considerada uma operação de guerra está levando inclusão energética para residências de difícil acesso da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri

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mini_usina_geralux.jpgO kit do fogão que produz eletricidade começou no final da semana passada a chegar às casas de 27 famílias vinculadas ao projeto de extração de látex para a fábrica de preservativos de Xapuri nos seringais Nova Vida, Floresta e Nazaré. O kit entra agora em fase de testes nas casas e é composto pelo fogão, baterias e chaminés, além de duas panelas e um bule.

São necessários vários homens para transportar pelos varadouros o equipamento que chega a pesar 140 quilos. Criado pelo engenheiro mecânico Ronaldo Sato, a tecnologia vem sendo aperfeiçoada pelo Centro de Referência de Energia Alternativa da Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac). Na mesma queima de biomassa utilizada para o preparo dos alimentos, o fogão produz energia suficiente para acender cinco lâmpadas e ligar uma televisão.

O simples anúncio do equipamento, cuja experiência entra na fase de teste a campo, levou euforia às comunidades. “Espero que dê realmente certo”, disse o seringueiro José Francisco Bento do Nascimento, de 28 anos, morador da Colocação Nazaré, no Seringal Floresta, o primeiro beneficiário. Nesta semana, começa o trabalho de instalação e treinamento das famílias.

O Fogão, segundo Sato, é também mais ambientalmente correto do que os fogões tradicionais, chegando a economizar até 50% da biomassa usada, além de reter toda a fuligem no próprio equipamento. “A inalação de fuligem é apontada pela Organização Mundial da Saúde como a 8ª causa de morte no mundo”, explicava Sato a cada família visitada nesta última sexta-feira nas colocações do coração da resex.

O fogão não utiliza caldeira, o que simplifica sua construção e reduz riscos de acidentes. O vapor gerado no trocador de calor é transformado em energia mecânica e, a seguir, elétrica. A energia é armazenada em uma bateria comum de automóvel – cerca de 30% de sua carga é suficiente para a iluminação da residência em um período de 4 a 5 horas.

"Para recarregar a bateria utiliza-se o calor produzido no fogão durante o cozimento diário de alimentos”, diz o engenheiro, que estudou durante anos a produção de energia sem o uso de caldeira.
O trabalho de entrega do kit é lento e penoso – situações inerentes ao propósito do projeto, que é atender as comunidades isoladas, os grupos que não serão contemplados pela rede convencional hoje implantada pelo Programa Luz Para Todos.

Versões – O fogão que está sendo entregue é a quarta versão do protótipo que inicialmente se chamou Geralux. “A quinta versão deve ser a definitiva”, afirmou o criador da usina, que está compactando o equipamento de modo a reduzir o peso. O motor deve ser substituído por uma turbina, fazendo menos ruído.

Em varadouros e trilhas, equipamento é levado nas costas

Os kits foram levados em caminhões até a comunidade Rio Branco, no Seringal Floresta. Dali, seguiram conduzido em camionetas até a entrada dos varadouros e levados até as residências carregados  pelos trabalhadores dos programas Luz Para Todos e Centro de Referência de Energia Alternativa da Funtac, em caminhadas que duravam até um hora  mata adentro. Devido ao peso, alguns foram transportados sem a caixa de madeira de 22 quilos. Um caminhão munk ajudou a remoção dos fogões.

O professor Raimundo Chagas, morador da Colocação Maloca, foi o segundo beneficiado. Em sua casa moram a mulher e cinco filhos. Todos tinham somente a lamparina para fazer iluminação à noite. “Essa é uma boa idéia do Governo e eu quero ver como funciona”, disse ele.

Adagmar de Souza Franco gasta R$30 a cada dois meses apenas para recarregar a bateria de 12 volts que usa para acender um bico de luz e ligar o som de vem em quando. Com o fogão, espera ele, acenderá mais lâmpadas e comprará um televisão.

Adagmar mora com a mulher Sandréia Ferreira da Silva Franco e dois filhos na Colocação Santa Clara, no Seringal Nazaré e, assim como os demais contemplados, guarda grande expectativa em relação ao fogão. “Se der certo mesmo vai ser muito bom”, diz.

Usina atenderá ao Luz Para Todos

A meta do Governo do Estado é atender estimadas 20 mil famílias que hoje vivem sem rede elétrica em várias regiões do Acre. As dificuldades de acesso implicam em exclusão elétrica porque a rede convencional não chega a esses locais.

Assim, o Centro de Referência de Fontes de Energia Alternativa da Funtac avalia várias possibilidades, estando as mais avançadas o uso de placa solar e o fogão para levar energia elétrica aos isolados. O centro, coordenado por Nadma Kunrath, estuda a produção de energia com biomassa, biodiesel e a partir de pequenas centrais hidrelétricas.

Empresa começa a produzir fogão em escala em Rio Branco

Instalada no Distrito Industrial de Rio Branco, a empresa mineira DAMP Eletric, ligada ao Grupo BMG, irá investir na implantação de uma indústria para a produção inicial de 300 unidades ao mês. É possível que o fogão receba o nome de BMG Lux.

Após todos os testes, o fogão deverá ser licenciado para fabricação em série. A partir daí, os custos serão bastante reduzidos. “É previsível que o preço do fogão caia a um terço do valor da placa solar”, exemplificou César Dotto, diretor-presidente da Funtac, responsável pelo projeto. “O fogão tem várias vantagens para as famílias”, completou Nadma.

Principais vantagens do fogão :

* O fogão produz energia para ligar cinco lâmpadas e uma tv ou rádio, evitando assim a falta de informação e o maior isolamento da população;

* Não há contato com a fuligem ocasionada pela queima da lenha, que é a oitava causa de morte no Brasil;

* Há total aproveitamento do calor, o que não ocorre nos fogões a lenha tradicionais;

* Não produz fumaça;

* Consome 50% menos lenha;

* É ambientalmente correto;

*Utiliza componentes nacionais.

Agência de Notícias do Acre
Texto: Edmilson Ferreira
Fotos: Gleilson Miranda