Francisco Thaumaturgo: testemunha da luta do Acre para ser brasileiro

Ex-deputado e liderança do Juruá atuou durante décadas na vida pública, sempre em prol dos mais carentes

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O ex-deputado Francisco Thaumaturgo é testemunha de parte importante da história do Acre e ativista do Movimento Autonomista (Foto: cedida/Jornal A Tribuna)

O ex-deputado Francisco Thaumaturgo é testemunha de parte importante da história do Acre e ativista do Movimento Autonomista. Após a morte de Omar Sabino e do ex-governador Geraldo Gurgel de Mesquita, Thaumaturgo é o único ativista autonomista ainda vivo. Esta semana ele completou 98 anos de idade, mas ainda recorda como foram os anos de luta e devoção ao povo acreano.

Assim como tantos outros que adotaram o Acre como sua terra, Thaumaturgo é  filho de um alfaiate cearense. Ele nasceu no município amazonense de Catumã, em 15 de agosto de 1913. Porém, pouco mais de um ano após seu nascimento, os pais mudaram-se para Sena Madureira, no Acre.

Ainda jovem, Thaumaturgo precisou mudar-se novamente para Manaus para concluir o ensino colegial (atual ensino médio) e cursar Faculdade de Farmácia e Odontologia na Universidade Federal do Amazonas, sendo formando da primeira turma de Odontologia.

Nos anos de 1940, o jovem odontólogo Thaumaturgo foi convidado a trabalhar no Vale do Juruá. Isso o ajudou a conhecer a realidade do povo que vivia na região do Juruá.

Durante alguns anos Francisco Thaumaturgo trabalhou atendendo ribeirinhos que viviam nas proximidades dos rios, Breu, Tejo e Juruá-Mirim, seguindo até a fronteira do Brasil com o Peru.

Nessa época ele conta que foi até a Foz do Tamboriaco, local onde Euclides da Cunha exercia a função de guarda aduaneiro, com seu consultório instalado em um “batelão” para atender nas colocações os muitos seringueiros que não tinham condições de ir até a cidade.

Depois de anos de dedicação ao povo do Juruá, o odontólogo decidiu constituir família naquela região e casou-se com Reneé Assis Thaumaturgo, filha de um dos pioneiros do Vale do Juruá, Francisco Januário de Assis. Com Reneé Assis o ex-deputado constituiu uma família com sete filhos, 12 netos e três bisnetos.

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Nos anos de 1940, o jovem odontólogo Thaumaturgo foi convidado a trabalhar no Vale do Juruá. Isso o ajudou a conhecer a realidade do povo que vivia na região do Juruá (Foto: cedida/Jornal A Tribuna)

Em 1962, após a elevação do Acre à categoria de Estado, a convite do amigo e candidato a governo, José Augusto de Araújo, Thaumaturgo concorreu ao cargo de deputado estadual constituinte pela sigla do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Na ocasião foi eleito o parlamentar mais votado pelo Estado do Acre, passando desde então a exercer forte liderança sob o povo do Vale do Juruá, em especial de Cruzeiro do Sul.  

Francisco Thaumaturgo foi deputado eleito por 16 anos de legislaturas, participando de duas Assembleias Estaduais Constituintes – a de 1962 e a de 1988.

“O patriarca Francisco Thaumaturgo, que sempre escolheu o Acre para exercer sua profissão de odontólogo e sua condição de homem público, tem na sua biografia um passado e um presente rodeados de lutas, glória e felicidade, traduzidos no seu espírito de bem”, orgulha-se Graça Thaumaturgo, filha do ex-deputado.

Como político e deputado estadual por quatro legislaturas, sendo duas constituintes, teve como premissas de seu trabalho e vida a lealdade a seus princípios, ideais e, principalmente, a honestidade no trato com a coisa pública.

Os filhos ressaltam que, enquanto exerceu cargos eletivos, o pai nunca se deixou levar pela falta de ética política. “Ao contrário, exerceu seus mandatos de forma coerente, voltados especialmente para a comunidade acreana. Desprovido de bens materiais, vinculou sua atividade ao exercício da espiritualidade, sempre voltado para o bem.”

“Ele personaliza uma das páginas mais brilhantes da história do Acre e do Legislativo acreano, pela sobriedade, pela competência e, sobretudo, pelo invulgar espírito público que marcou toda uma trajetória de grandes feitos, contribuindo para a construção da história deste Estado. Todos nós, acreanos, só devemos nos orgulhar”, afirma Graça Thaumaturgo.

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