Governo do Estado contribui para a autonomia dos povos indígenas

Povo Ashaninka é beneficiado pelo Programa de Aquisição de Alimentos

Invencíveis e grandes na guerra. É com este ímpeto que o povo Ashaninka, da Terra Indígena Kampa do Rio Envira, busca aliar as tradições milenares, originárias da cultura Inca, com as inovações trazidas pela sociedade moderna. Um bom exemplo disto é o que vem acontecendo com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

A agricultura de subsistência é a principal fonte de alimentos que constitui a base alimentar. Eles cultivam diversas espécies de tubérculos e frutíferas. Sua economia ainda se compõe de animais de caça, pesca nos rios e em lagos naturais comunitários, na coleta de sementes e fibras para confecção de artefatos.

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Invencíveis e grandes na guerra. É com este ímpeto que o povo Ashaninka, da Terra Indígena Kampa do Rio Envira, busca aliar as tradições milenares, originárias da cultura Inca, com as inovações trazidas pela sociedade moderna (Foto: Assessoria Seaprof)

A comercialização da produção, principalmente do feijão, é um dos mais importantes meios de geração de renda para as comunidades Ashaninka do Envira. Porém, enfrentam dificuldades para organizar e levar a produção para vender nas cidades. Nesta terça-feira, 11, a Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), recebeu os primeiros 35 cadastros de produtores indígenas que irão integrar o PAA, na comercialização do feijão peruano.  Além da compra garantida, o programa irá destinar toda a produção, 9,2 toneladas à merenda escolar de 244 alunos das 11 escolas que estão localizadas na própria Terra Indígena.

A primeira vista pode parecer pouco, mas na verdade representa o empoderamento que pouco a pouco os povos indígenas conquistam. “O resultado do que presenciamos hoje é devido as ações conjuntas que tiveram origem no governo de Jorge Viana, que na época propôs mudar a concepção paternalista para promover a autonomia dos povos indígenas”, afirma Dinah Borges, Chefe da Divisão de Extensão Indígena da Seaprof.

Desde então, várias ferramentas e metodologias foram empregadas com intuito de auxiliar o poder público nas ações desenvolvidas e ao mesmo tempo, mitigar a interferência nos costumes indígenas. Como resultado dos esforços dos diversos segmentos da sociedade, destaca-se a construção dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental Indígena (PGTI), que teve como pioneira a Ong Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) e o banco de sementes tradicionais coordenado pela Seaprof.

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Nesta terça-feira, 11, a Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), recebeu os primeiros 35 cadastros de produtores indígenas que irão integrar o PAA (Foto: Assessoria Seaprof)

Os PGTI’s são caracterizados pelo respeito a história e pela concepção holística aos diversos aspectos da cultura indígena. Os planos consistem em elencar as demandas, as potencialidades e identificar todos os atores que possam contribuir para a superação das necessidades apresentadas – são construídos pelo e para o povo indígena. Existem demandas que eles próprios se responsabilizam pelas providências que devem ser tomadas. Isso é sintomático e revela que estão se tornando protagonistas de sua própria história, marcada pela nobreza, constância e valor.

Outra ação capitaneada pela extensão indígena foi o fomento aos bancos de sementes tradicionais. Um banco de sementes consiste em armazenar certa quantidade de variedades de grãos, com intuito de resguardar os produtores de uma possível escassez ou sinistro que possa ocorrer em suas propriedades. O banco de sementes elaborado pela Seaprof sofreu algumas adaptações, o que fez toda a diferença para o sucesso alcançado. Possibilitou, não apenas guardar sementes, mas incentivou a troca de sementes entre os povos indígenas, resgatando sementes antigas e, por conseguinte, a cultura imemorial de diversas variedades que foram perdidas após o contato com a sociedade moderna.

“Os patrões, donos de seringais, proibiam os indígenas de cultivar seus roçados. Toda força de trabalho deveria ser destinada exclusivamente a extração do látex. Nessa época, as sementes, os mitos que contam as histórias do aparecimento e da utilização das sementes foram se esvaindo devido a imposição dos feitores”, explica Borges.

Na busca de promover o resgate de sementes tradicionais, em 2006, a Seaprof realizou a I Feira de Sementes Tradicionais e intercâmbios culturais. Em 2008, durante o Encontro de Culturas Indígenas e Jogos da Celebração, fomentou a troca de sementes entre os 14 povos indígenas que participaram do evento. Em 2010, elaborou o livro bilíngüe “Sementes Tradicionais do Povo Huni Kui”. O livro conta quais os principais cultivos feitos pelo povo Huni Kui, bem como qual é o período mais propício para o plantio e relata a história mítica da origem e de como é utilizado cada um dos legumes colhidos. Os exemplares foram destinados para as escolas indígenas e distribuídos para principais entidades nacionais envolvidas com a questão indígena. Com o Programa de Aquisição de Alimentos, não é diferente, vários atores estão envolvidos. A Secretaria de Educação, Seaprof, Sedes.

Em visita ao Acre, o coordenador geral do Programa de Aquisição de Alimentos, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Marcelo Botton Piccin, ao saber da produção indígena e da incorporação ao PAA, de pronto se dispôs a quebrar o protocolo, para visitar a Terra Indígena, em virtude do ineditismo da ação.

Triunfantes, o Povo Ashaninka optou pelo protagonismo, com a força e sabedoria emanada de seus antepassados, entoam cânticos que mais parecem a voz do Amazonas, ecoando por todo o Brasil.

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