Revista científica destaca uso de imagens de satélite na pesquisa dos geoglifos do Acre

Publicação diz que acesso ao material produzido a partir de satélites está mais fácil

Disseminação da tecnologia e preços mais acessíveis tornaram as imagens de satélites ferramentas usuais para cientistas de diversas áreas e até para o cidadão comum que pode localizar pela internet endereços de ruas com as imagens captadas do espaço. Os pesquisadores também estão utilizando as ferramentas públicas da rede mundial em seus trabalhos. É o caso da antropóloga Denise Schaan, da Universidade Federal do Pará e presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Ela usa a ferramenta Google Earth na busca de novas ocorrências de sítios arqueológicos conhecidos como geoglifos e que estão espalhados por uma área de 270 quilômetros entre Xapuri e Boca do Acre, no estado do Acre. O Google Earth combina os recursos de pesquisa do Google com imagens de satélite, mapas, terrenos para fornecer informações geográficas do mundo todo.

O biólogo e especialista em gestão ambiental, Leandro Luiz Giatti, da Fiocruz-Amazonas, usou imagens de satélites para mapear as fontes de água em Iauaretê, uma área indígena em São Gabriel da Cachoeira (AM) no intuito de descrever as condições sanitárias e socioambientais de seus habitantes. "Iauaretê é uma área indígena na Amazônia brasileira que se destaca pela concentração populacional", diz Giatti. Foram construídos mapas-falantes; realizadas entrevistas; estudos da disposição de resíduos sólidos; localização, amostragem e análise da água de consumo humano; e aplicação de técnica de georeferenciamento (correção das imagens coletadas). A pesquisa mostrou que 89,2% das 65 amostras de água analisadas, estavam contaminadas.

Graças aos investimentos do Brasil na construção de dois satélites em parceria com a China, as imagens geradas por esses equipamentos podem ser fornecidas gratuitamente ao cidadão comum, segundo explica o geógrafo Heleno Bezerra da Silva da Embrapa Cerrados, do Distrito Federal,. Os Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres, (CBERS, sigla em inglês) 1 e 2 custaram 150 mil dólares e o Brasil participou com 30% desse valor. Esses satélites, lançados em 1999 e 2003, respectivamente, orbitam a 778 km da Terra e geram imagens utilizadas nos setores de agricultura, meio ambiente, recursos hidrológicos e oceânicos, florestas, geologia entre outros.

Segundo Silva, uma imagem de satélite pode ser usada para comparar duas situações diferentes no tempo e espaço. Uma antes do acontecimento e outra depois. Um programa de computador compara imagens obtidas, por exemplo, com 16 dias de diferença e permite apontar em quais localidades os pontos verdes (matas) são substituídos por outras colorações, que indicam a ocorrência de queimadas, retirada de madeira, plantações de soja, pecuária extensiva, etc.

O uso de imagens de satélite também pode ajudar a salvar vidas em casos de catástrofes, no planejamento da ocupação do território ou na formulação de planos de emergência e monitoramento. Segundo, Leonardo Rios, doutor em Ciências Ambientais pela USP de São Carlos, em casos de enchentes, o que pode ser feito é um estudo prévio de áreas que podem ser afetadas por enchentes através da sobreposição de imagens de satélites. Dados históricos de enchentes podem ser levantados para fazer modelos de previsão em SIGs (sistemas de informações geográficas). Um exemplo de utilização desse recurso pode ser encontrado no site do programa de SIG Idrisi.

Entretanto, dependendo da aplicação, as imagens do espaço podem não ser tão acessíveis. Para se obter fotografias de objetos de cerca 30 metros em áreas urbanas, por exemplo, o interessado terá de desembolsar mil reais por quilômetro quadrado, (preço pelos serviços do satélite japonês Ikonos) e, segundo explica Silva, as imagens podem demorar até um mês para ficarem prontas. Para se ter uma idéia de quanto custa utilizar essa tecnologia do espaço, empresas especializadas divulgam os valores desses serviços (ver: Engesat).

Leonardo Rios, da USP, aponta ainda outros obstáculos mais prosaicos para o uso desses equipamentos. Um simples céu encoberto, por exemplo, bloqueia as imagens fotográficas, e os sensores tipo radar, que não dependem do clima, ainda não apresentam boa qualidade em imagens de áreas reduzidas. Além dos problemas de ordem técnica, Rios aponta duas outras limitações importantes, o baixo investimento feito no Brasil para a implantação de sistemas de informações geográficas e a falta de pessoal qualificado no setor público. "Esses profissionais poderiam auxiliar nas tomadas de decisões do governo utilizando bases técnicas e não somente políticas", critica Rios.

Fonte: Revista ComCiência