valorização da cultura

Tião Viana homenageia trabalhadores com novo Memorial Wilson Pinheiro

“O compadre Wilson só nos conscientiza para nunca sairmos das nossas colocações de seringa naquela época, porque vivíamos daquilo. Ele também era seringueiro e não queria que viéssemos para as periferias das cidades, pois poderíamos perder até a própria família.” Este é o depoimento de Otávio Nogueira sobre o líder Wilson Pinheiro, seu compadre.

Em Brasileia, nesta sexta-feira, 20, o governador Tião Viana homenageou a história de luta do líder com a entrega do novo Memorial Wilson Pinheiro. O espaço, que tinha ainda as marcas do assassinato de Wilson, passou por duas alagações e foi revitalizado pelo governo do Estado. Hoje é um espaço de memória e faz parta da sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia.

A solenidade de inauguração contou com a presença de diversos amigos e companheiros de Wilson, estando esses senhores e senhoras claramente emocionados em lembrar os últimos minutos do líder, relatados pela filha Iamar Pinheiro e o médico Tufi Saad Filho.

“Wilson e todos os seus companheiros simbolizavam a busca da paz. Ele foi covardemente assassinado, mas sua luta inspirou e gerações foram capazes de construir um Acre melhor, onde todos possam estar mais próximos e pensar em uma grande união em direção ao futuro. Nosso projeto de governo defende a vida”, declarou o Tião Viana.

O governador falou ainda da importância que é o novo espaço para que a juventude conheça a história acreana. “Quando a gente olha a história com a devida serenidade em busca de entender cada detalhe, se torna capaz de olhar para o futuro e fazer o melhor. Aqui é a memória de um povo que dizia não à violência, dizia assim as relações humanas as relações de comunidade, queria um desenvolvimento correto”, disse.

Iamar, em nome de toda a família, agradeceu o empenho do governador Tião Viana em garantir a reconstrução do espaço. “A memória do WIlson está viva em mim todos os dias, mas outros que estão chegando agora e precisam conhecer a história do Acre e do Brasil poderão ver aqui neste espaço. Hoje, fico tão feliz, de ver o governador Tião Viana, com todo o seu carinho pelo Acre, estando aqui para inaugurar uma história que tem que continuar viva, a história dos trabalhadores”, declarou.

“O espaço está sendo entregue como um local de memória acreana, o governo do Estado devolve assim para a população. O Memorial Wilson Pinheiro tem a relevância de ser o espaço berço de todo essa resistência dos trabalhadores da floresta”, afirmou Karla Martins, presidente da Fundação Elias Mansour, órgão responsável pela revitalização, junto com a Secretaria de Obras do Estado e apoio do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). A obra foi orçada em mais de R$ 156 mil.

A prefeita de Brasileia, Fernanda Hassem, também agradeceu a entrega do memorial. “É preciso trazer todos os jovens aqui. Precisamos entender que este espaço é de todos nós, contém a história da nossa cidade e do nosso povo”, lembrou . No local, haverá uma exposição permanente com relatos e objetos pessoais, além de também estar junto da sede do sindicato.

História de Wilson

Wilson Pinheiro foi líder do “Mutirão contra jagunçada”, episódio em que centenas de trabalhadores marcharam contra bandidos que ameaçavam os posseiros da região. Fundou também o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia e foi membro da Comissão Municipal Provisória do Partido dos Trabalhadores na cidade.

Foi assassinado na sede do sindicato – que posteriormente virou o Memorial Wilson Pinheiro – em 21 de julho de 1980, a mando de latifundiários da região. Inspirou várias outras lideranças trabalhadoras, como Chico Mendes, que começou a luta sindical com Wilson.

Inspirou também o ex-presidente Lula, que se fez presente em seu velório e declarou a famosa frase “está na hora da onça beber água”, que causou sua prisão em plena Ditadura Militar.

Mas seu compadre Otávio, hoje com 86 anos, resume melhor o que foi este líder: “Ele queria lutar para que educação e saúde chegassem lá na nossa colocação, lá onde vivíamos. Junto, em mutirão, ele nos ensinava a abrir ramal e acreditar na terra, porque foi Deus que a fez para nós tirarmos o que precisamo. Nunca sair da terra, o Wilson pedia até pelo amor de Deus”.