Árvores de dinheiro – Série Indústria Acreana Parte III

Opção pela floresta gera renda para todos

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Fábrica Natex, em Xapuri, gera emprego e renda na cidade e na floresta (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Aceitar os fatos e transformá-los em vantagens competitivas foi um passo importante dado pelo Estado rumo ao desenvolvimento econômico industrial. Entender que quase 90% do território acreano ainda é coberto por florestas, que o meio ambiente precisa ser preservado e que as populações tradicionais não devem ser esquecidas ou isoladas foi o início de uma opção que tem se mostrado acertada. A soma da preservação ambiental com políticas públicas aliadas à tecnologia e respeito aos povos da floresta para desenvolver uma indústria de base florestal resulta em produtos de qualidade reconhecida no Brasil e no mundo.

O primeiro exemplo é a Natex. A Fábrica de Preservativos de Xapuri é a única no mundo a utilizar látex de seringais nativos – o que lhe rende algumas vantagens. "Além da elasticidade da borracha ser bem melhor que a obtida em seringais de cultivo, há o ganho social, com 500 famílias de seringueiros beneficiadas. Hoje eles recebem R$ 4,8 por litro de látex, antes, vendia o quilo da borracha por cerca de R$ 1,3. Ou seja, eles são protetores da floresta, pois a preservam para retirar dela o sustento", explica o secretário de Extrativismo e Produção Familiar, Nilton Cosson.

A seringa, que era um produto em decadência, hoje gera renda e traz o desenvolvimento industrial para Xapuri. Toda a produção da Natex é vendida ao Ministério da Saúde e no próximo ano uma nova linha de produção será instalada, aumentando a quantidade de famílias que entregam látex para a fábrica e o número de funcionários diretos.

Hoje as essências florestais saem do Acre como saiam a castanha e o látex no passado: sem beneficiamento e sem valor agregado. Este é outro produto de base florestal que também vai receber uma atenção especial do Governo, para atrair a indústria cosmética para o Acre. "Antes da indústria cosmética chegar, era preciso trabalhar o setor óleoquímico, que é responsável por pegar os óleos e prepará-los para utilização na industria farmacêutica, alimentícia ou cosmética. E esse dever de casa nós já fizemos, melhorando nossos laboratórios e as técnicas de extração dos óleos", explica Dotto.

As negociações indicam que em breve o Acre terá grandes empresas cosméticas instaladas, gerando empregos diretos e utilizando produtos florestais que serão entregues por populações tradicionais, como as comunidades que moram na Floresta Estadual do Antimary. "As empresas cosméticas estão interesse nisso porque sabem que temos um grande diferencial que são as marcas Amazônia, Acre, floresta, Chico Mendes, Xapuri, desenvolvimento sustentável. Essas empresas têm interesse nesse mercado e em toda essa logística que é o porto seco, uma zona de processamento para exportação, saída para os portos do Pacífico. Essas negociações estão bem avançadas", comemora Dotto.

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Madeira é a grande promessa da indústria acreana

Num estado com 88% de cobertura florestal, parece óbvio que a madeira seja um produto econômico importante. Mas, se esta floresta fosse derrubada e transformada em móveis, pisos e outros produtos, a fonte, certamente secaria. Como, então, continuar obtendo renda com a madeira por gerações e gerações? O Acre parece já ter encontrado a resposta e a garantia é o reconhecimento internacional como o único caso de sucesso no manejo da madeira no mundo. O reconhecimento ocorreu em Londres, durante um evento internacional da Agenda Setorial da Madeira.

Há cerca de oito anos, 80% da madeira que saia do estado era ilegal. Hoje apenas 5% deixa o estado na ilegalidade. "A madeira era outro produto de base florestal em que o Estado tinha interesse em investir. Não queríamos mais sair com as toras daqui, precisávamos agregar valor. Inviabilizamos de todos os meios que saísse madeira em tora daqui, mas demos todas as condições para que se colocasse um empreendimento industrial. Foi quando se decidiu pelo investimento de mais de R$ 20 milhões da fabrica de piso", explica Dotto.

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Indústria de taco abre as portas do mercado brasileiro e internacional que valoriza a madeira certificada (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

A fábrica piso, que começou a funcionar em 2009 tem capacidade de produzir mil metros quadrados de produto (piso ou deck) a cada turno de 8 horas. A capacidade de produção anual da fábrica, em valores, é R$ 23 milhões ao ano. O metro quadrado do piso sai por R$ 70 para o mercado brasileiro e U$ 35 dólares para o mercado externo.

Cada hectare de floresta tem entre duas ou três árvores para manejar, num universo de 200 árvores adultas e mil árvores jovens. O Acre tem hoje mais de 600 mil hectares de florestas manejadas. Entre 2001 e 2007 a quantidade de madeira manejada aumentou 65%.

O Pólo Moveleiro de Rio Branco também está em festa. Acabou de fechar um contrato com a rede Casa & Construção – que tem mais de 22 lojas nas regiões Sul e Sudeste, para a venda de móveis certificados. "Começamos de forma tímida e compramos alguns produtos da atual coleção de móveis, como a espreguiçadeira, artefatos e jogos de mesas. Mas temos confiança de que farão o maior sucesso, pois são peças com uma qualidade, design e acabamento bem superior ao que tem sido colocado no mercado pelos concorrentes", avaliou a representante da rede, Miriam Gemignane. 

O triunfo da madeira

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Laminados Triunfo conquistou compradores europeus ao trabalhar com madeira toda certificada (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Responsável por 70% do PIB (Produto Interno Bruto) de Exportação do Acre, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex-MDIC), a Laminados Triunfo também é a maior exportadora de compensados de madeira tropical certificada do Brasil e está instalada em solo acreano, gerando 350 empregos diretos e com planos de ampliação.

A empresa se instalou no Parque Industrial em 2006, vinda do Mato Grosso do Sul atraída pelo potencial florestal acreano e pela política de valorização florestal implementada pelo Governo do Estado. Hoje 85% da produção da Triunfo é exportada. Vira móveis, forração para a construção civil e matéria-prima para indústrias que recebem o compensado pré-cortado e transforma em prateleiras e outros artefatos. O Reino Unido absorve 80% dos laminados da Triunfo, onde a cadeia de lojas BWK distribui os produtos para 800 lojas.

A capacidade instalada é de 6 mil metros cúbicos/mês, que demandaria pelo menos 700 funcionários para operar a pleno vapor, sendo que apenas 40% desta capacidade está em uso. Nos planos desta gigante da indústria acreana está a meta de dobrar a produção no próximo ano, com um investimento direto no processo de extração da madeira de R$ 8 milhões, que serão somados aos R$ 30 que foram investidos no parque industrial de 23 mil metros quadrados.

A empresa caminha a passos verdes, rumo a uma economia cada vez mais limpa: "Hoje nós geramos 100% da energia que consumimos através dos resíduos da madeira, que são transformados em combustível para as máquinas", se orgulha o empresário Jandir Santin, que está à frente do empreendimento.

A empresa trabalha agora no plano de ampliação da indústria e procura um novo terreno para o próximo empreendimento. "Faremos um novo parque industrial, em Rio Branco. Será uma nova unidade que virá para agregar à Triunfo e ao Complexo Industrial de Xapuri – que tem uma parte administrada por nós", explica Santin.

O projeto é ampliar a variedade de produtos que são oferecidos ao mercado hoje, com portas, sarrafiados e compensados exclusivos para uma linha de movelaria de acabamento fino. Neste novo negócio serão investidos pelo menos R$ 15 milhões. Toda a madeira utilizada pela Triunfo é certificada e oriunda de projetos de manejo comunitário ou das fazendas próprias.

Castanha e biscoitos Miragina na Le Lis Blan

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Grupo Miragina comemora bons resultados dos investimentos na produção de biscoitos no Acre (Foto: Diego Gurgel/GKNoronha)

Com a capacidade instalada em uso, funcionando em três turnos e se preparando para ampliar a linha de produção o Grupo Miragina vai muito bem, obrigada. A empresa, fundada em 1967 por Abrahão Felício e sua esposa Miriam Assis Felício, iniciou as atividades produzindo macarrão, numa época em que fazer a matéria-prima chegar até o Acre era um desafio. Hoje o empreendimento é administrado pelos filhos, que expandiram o negócio para o setor imobiliário, com o Mira Shopping – que tem planos para ser transformado em hotel – e para o setor extrativista, com a instalação da usina de beneficiamento de castanha-do-brasil e extração de óleos vegetais – que tem parte de sua produção voltada para o uso na fabricação dos biscoitos do Grupo.

Na última década a Miragina passou por uma mudança que indica o bom andamento dos negócios: o terceiro turno foi implementado na fábrica de biscoitos. E isso aconteceu antes do lançamento da cream-cracker, que toma um bom tempo dos funcionários. O número de funcionários, aliás, também cresceu. Saltou de 52 para 75 e deve aumentar novamente, pois a ampliação da indústria e a implantação de uma nova linha de produção estão nos planos do grupo.

O azeite extra-virgem de castanha – que é vendido diretamente para chefs de cozinha e mantém todas as propriedades da amêndoa graças ao processo de extração também pode virar mais um produto do grupo nas gôndolas de supermercados e empórios. "Temos uma empresa interessada em envazar o óleo, que é muito apreciado para uso na alta culinária. Ele é extraído a frio e natural, sem conservantes", explicou o empresário José Luiz Felício.

O Grupo se prepara para as exportações, de olho nas portas que devem se abrir com a facilidade em acessar os portos Pacífico, após a conclusão da estrada. "Não queremos ser engolidos quando este comércio começar a se desenvolver. Até agora ninguém entrou para dançar, é como uma festa. Todo mundo fica olhando e quando a primeira empresa sair para dançar, todo mundo vai atrás. Mas hoje, o nosso foco não são as exportações. Estamos voltados para atender os mercados de Brasília e da Região Sudeste, embora todo o país receba nossos produtos, principalmente a castanha in natura e a fatiada com sal".

Mercado Classe A – O mais recente contrato da empresa é nada mais nada menos que com uma das grifes mais prestigiadas pelo público de alto poder aquisitivo: a Le Lis Blanc. Se você está se perguntando por que uma marca classe A que vende roupas e acessórios está comprando castanha-fatiada e biscoito de castanha a resposta é simples: a Amazônia é uma marca e seus produtos – quando apresentam qualidade comprovada – abrem as portas de qualquer setor. O primeiro contrato foi de duas mil latinhas, entre castanhas fatiadas com sal e biscoitos de castanha.

Os produtos esgotaram em uma semana. Até o final do ano a Miragina deve ter fornecido 11 mil latas de produtos para a rede de lojas. "A única exigência foi rotular as embalagens com a estampa da grife. Esta compra faz parte do projeto Eco-Social Le Lis Blanc, que procura valorizar a cultura e a diversidade do país. A empresária conheceu nossos produtos durante uma exposição de artesanato acreano para grandes empresários brasileiros promovida pelo Sebrae", comentou Felício.

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